No dia 20 de
julho de 1969, muitos curiosos, estudiosos e pesquisadores acompanharam pela
televisão a grande aventura do século passado: a chegada do homem à Lua, na
nave espacial Apolo 11. Este fato teve como protagonista principal o astronauta
americano Neil Armstrong, engenheiro e piloto de provas. No mundo em 1969 ainda
faltavam televisores, não havia computadores domésticos, nem se sonhava com
algo como a Internet. No entanto, muitos dos equipamentos criados para os
programas espaciais foram convertidos para a utilização no cotidiano das
pessoas. De acordo com a NASA, mais de 30 mil aplicações secundárias surgiram
de suas pesquisas em laboratórios desde 1958. Com certeza você está
perguntando: o que a resolução de problemas em matemática tem a ver com programas
espaciais e com aplicações secundárias? Encontramos respostas a esta pergunta
quando analisamos os recentes desenvolvimentos das telecomunicações, da
nanotecnologia, da medicina no nosso cotidiano e a definição de problema.
A partir dos anos oitenta a
resolução de problemas torna-se recomendação nos modelos pedagógicos do mundo e
é desnecessário justificar a sua importância na área de matemática.
Para a definição clássica de
problema temos: uma situação que um indivíduo ou grupo quer resolver e para
o qual não dispõe de procedimentos automáticos que permita solucioná-la de
forma mais ou menos imediata. Já um exercício dispõe e utiliza
mecanismos que levam quase que de forma imediata à solução.
A realização de exercícios se baseia no uso de habilidades
ou técnicas transformadas em rotinas como conseqüência de uma prática contínua.
A solução de problemas exige o uso de estratégias, a tomada de decisões sobre o
processo de resolução a ser seguido.
A resolução de problemas e a
realização de exercícios se completam para o aprendizado da matemática. Na
resolução de problemas as técnicas previamente exercitadas, constituem um meio
ou recurso necessário, mas não suficiente, para alcançar a solução; além delas
são exigidas estratégias, conhecimentos matemáticos, atitudes, etc..
Para resolver um problema temos
que:
1. Compreender
o problema,
2.
Conceber um plano que nos conduza à meta,
3.
Executar esse plano e, finalmente
4.
Analisar se alcançamos ou não essa meta.
Esta seqüência
que acabamos de descrever é a que o matemático Polya estabelecia como
necessária para a resolução de problemas.
Os quatro
passos enumerados por Polya são hoje resumidos em dois grandes processos: tradução
e solução do problema que são colocados em ação quando solucionamos
algum problema.
O primeiro
passo na resolução do problema consiste então na tradução das palavras, ou
seja, transformação no formato de apresentação do problema para símbolos e
representações matemáticas. Para a compreensão de um problema matemático são
necessários conhecimentos da língua materna que facilitam a compreensão da
tarefa, permitindo a sua representação em termos matemáticos que ajudam a
elaborar um plano para resolvê-lo.
O processo de
solução propriamente dito exige um conhecimento estratégico que nos ajuda a
estabelecer as metas e os meios úteis para alcançá-las e um conhecimento
operacional ou algorítmico que nos permite executar essas estratégias e planos.
Não existem
procedimentos que ensinam a resolver problemas. No entanto algumas orientações
podem ajudar:
a)
Expressar o problema com outras palavras;
b)
Explicar para alguém em que consiste o problema;
c)
Representar o problema com outro formato
(gráficos, diagramas, desenhos, etc.);
d)
Indicar qual é a meta do problema;
e)
Apontar onde reside a dificuldade da tarefa;
f)
Separar os dados relevantes dos não relevantes;
g)
Indicar os dados com os quais contamos para
resolver a tarefa;
h)
Indicar quais os dados que não estão presentes,
mas que são necessários para resolver a tarefa;
i)
Procurar um problema semelhante que já tenhamos
resolvido;
j)
Analisar inicialmente alguns exemplos concretos,
quando o problema é muito geral.
O processo de
solução de um problema termina quando o objetivo estabelecido foi alcançado e
com a análise da solução obtida.
Lembramos que
só aprendemos resolver problemas resolvendo-os e para isso necessitamos de persistência
e força de vontade.
Vamos fazer
alguns exemplos.
PROBLEMA 8.1
De um reservatório cheio de
água, retira-se metade do seu conteúdo. A seguir, retira-se um terço do que
restou e continua-se com esse processo. Na terceira vez retira-se um quarto do
que restou, etc. Após quantas retiradas ficamos exatamente com um décimo da
quantidade original?
Solução:
Este problema já possui uma
linguagem matemática, não é necessário mudar a sua linguagem.
Vamos começar
pensando na primeira retirada. Retiramos metade da água do reservatório, quanto
sobra? Usando frações, sobra .
Na segunda
retirada, da quantidade que sobrou, retiramos . Se retiramos de , sobraram de .
Como , na terceira retirada retiramos . Deverá sobrar .
Dando
continuidade á solução do problema, podemos fazer figuras do reservatório nas
sucessivas retiradas ou tentar uma tabela o que acho mais próprio. O que seria
representar o problema em outro formato.
Primeira retirada
|
Retira
|
Sobra
|
Segunda retirada
|
Retira
|
Sobra
|
Terceira retirada
|
Retira
|
Sobra
|
Quarta retirada
|
Retira
|
Sobra
|
...
|
...
|
...
|
Nona retirada
|
Retira
|
Sobra
|
Se a pergunta do problema é:
após quantas retiradas ficamos com um décimo da quantidade original de água?
Depois da nona retirada ficamos com do conteúdo original.
A resposta está correta?
PROBLEMA 8.2
Pintam-se de preto todas as
faces de um cubo de madeira cujas arestas medem 10 centímetros. Por cortes
paralelos às faces, o cubo é dividido em mil cubos pequenos, cada um com
arestas medindo 1 centímetro. Determine:
1) O número de cubos que não possuem nenhuma face pintada de preto.
2) O número de cubos que possuem uma única face pintada de preto.
3) O número de cubos que possuem exatamente duas faces pintadas de
preto.
4) O número de cubos que possuem três faces pintadas de preto.
Solução:
Caso seja
difícil a visualização do problema, use o cubo maior do “Material Dourado”.
Material Dourado
1)
Estão sem nenhuma face pintada, os cubos interiores
ao cubo maior. Devem ser retirados todos os cubos que formam “a casca” do cubo
maior, ficando assim um cubo de aresta 8. Esse cubo de aresta 8 possui cubos pequenos.
1) 2) Estão com uma face pintada aqueles que pertencem a uma face, mas não
possuem lado comum com a aresta do cubo maior, isto é, cubos pequenos em cada face. Como são seis faces, temos cubos pequenos.
3) Para que um cubo tenha somente duas faces pintadas, ele deverá estar
nas arestas, mas não nos vértices do cubo maior. Como são 12 arestas, teremos cubos pequenos.
4) Estarão com as três faces pintadas de preto aqueles que estão nos
vértices, ou seja, 8 cubos pequenos.
Para
verificarmos as respostas podemos fazer a recontagem no cubo do Material
Dourado.
PROBLEMA 8.3
Qual é o algarismo das unidades
do número ?
Solução
Podemos usar uma
calculadora para descobrir alguma regra, não faz sentido tentar efetuar o
cálculo, o número “não cabe” no visor da calculadora.
Observamos que:
e assim
sucessivamente.
Podemos concluir
que:
3
elevado às potencias 0, 4, 8, 12, ... termina em 1
3
elevado às potencias 1, 5, 9, 13, ... termina em 3
3
elevado às potencias 2, 6, 10, 14, ... termina em 9
3
elevado às potencias 3, 7, 11, 15, ... termina em 7
Já vimos este
raciocínio quando trabalhamos com congruência: 0, 1, 2, e 3. São os possíveis
restos na divisão por 4.
O número 2001
quando dividido por 4 deixa resto 1
se termina em 1 , termina em 3
PROBLEMA 8.4 (FUVEST)
Um número natural N tem três
algarismos. Quando dele subtraímos 396 resulta o número que é obtido
invertendo-se a ordem dos algarismos de N. Se, além disso, a soma do
algarismo das centenas e do algarismo das unidades de N é igual a 8,
então o algarismo das centenas de N é
a) 4
b) 5
c) 6
d) 7
e) 8
Solução
O que pede o problema?
Se o número tem três
algarismos, , o problema pede o dígito a . Vamos entender o que foi dado
para podermos encontrar o valor de a.
Quando
escrevemos que , queremos dizer que . Temos também que: quando dele subtraímos 396 resulta o número que
é obtido invertendo-se a ordem dos algarismos de N
Ao invés de
trabalharmos com a diferença, fica muito mais simples trabalharmos com a adição
Para efetuarmos essa conta, precisamos
escrever como:
logo
podemos simplificar, dividindo por 99 a
igualdade
o problema nos dá mais uma condição que não
usamos ainda: a soma do algarismo das centenas e do algarismo das unidades de N
é igual a 8
se
temos que .
Logo,
se encontramos , não importando o valor de b
Quando dizemos,
não importando o valor de b, estamos afirmando que b pode valer
de 0 até 9. Verifique essa afirmação.
O algarismo da centena é 6. A
resposta correta é a letra c).
PROBLEMA 8.5 (OBMEP)
Quais números naturais m
e n satisfazem a ?
Solução
Transformando a
soma em diferença de modo que de um da igualdade só apareça a potência de 2
Comparando,
temos que e são potencias de 2. A única solução possível é
e
resolvendo, obtemos .
Conseqüentemente
e, obtemos .
PROBLEMA 8.6 (OBMEP)
Uma loja distribui 9999 cartões
entre seus clientes. Cada um dos cartões possui um número de quatro algarismos,
entre 0001 e 9999. Se a soma dos primeiros 2 algarismos for igual à soma dos 2
últimos, o cartão é premiado. Por exemplo, o cartão 0743 é premiado. Prove que
a soma dos números de todos os cartões premiados é divisível por 101.
Observemos que se o cartão abcd é premiado então o cartão cdab
também é premiado, por exemplo: 2341 e 4123 são ambos premiados. Assim sempre
que temos dois cartões premiados cuja soma é
,
assim a soma desses dois cartões é
divisível por 101.
No caso do
cartão ser da forma
O número do
cartão é divisível por 101. Assim a soma de todos os cartões é divisível por
101 já que a soma pode ser feita agrupando cartões do tipo abcd com cdab.
PROBLEMA 8.7 (OBMEP)
Um menino tentou alinhar 480
latas em forma de um triângulo com uma lata na primeira linha, 2 latas na
segunda e assim por diante. No fim sobraram 15 latas. Quantas linhas têm esse
triângulo?
Solução
Suponhamos que o
triângulo está composto por n linhas, logo foram usadas latas, assim
se o produto de dois números naturais
consecutivos é 930, o menor deles é 30. Concluímos que o triângulo tem 30
linhas.
Outro modo de escrever a
equação é:
resolvendo a equação, obtemos:
ou .
Assim, é a solução positiva desta equação. Portanto o triângulo tem 30
linhas.
Parabéns pelas explicações! Me ajudou em muito a compreender. Foi difícil encontrar resoluções tão boas...
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