Texto retirado do livro de Simon Singh. O
Último Teorema de Fermat: a história do enigma que confundiu as mentes do mundo
durante 358 anos. Tradução de Jorge Luiz Calife. Páginas 112-113.
...
Além de encontrar um papel na
espionagem, os números primos também aparecem no mundo natural. As cigarras,
mais notadamente a Magicicada septendencim, possuem o ciclo de vida mais
longo entre os insetos. A vida delas começa embaixo da terra, onde as ninfas
sugam pacientemente o suco da raiz das árvores. Então, depois de 17 anos de
espera, as cigarras adultas emergem do solo e voam em grande número
espalhando-se pelo campo. Depois de algumas semanas elas acasalam, põem seus
ovos e morrem.
A pergunta que intrigava os biólogos
era: Por que o ciclo de vida da cigarra é tão longo? E será que existe
algum significado no fato de o ciclo ser um número primo de anos? Outra
espécie, a Magicicada tredecim, forma seus enxames a cada 13 anos,
sugerindo que um ciclo vital que dura um número primo de anos oferece alguma
vantagem evolutiva.
Uma teoria sugere que a cigarra
tem um parasita com um ciclo de vida igualmente longo, que ela tenta evitar. Se
o ciclo de vida do parasita for de, digamos, 2 anos, então a cigarra procura
evitar um ciclo vital que seja divisível por 2, de outro modo os ciclos da
cigarra e do parasita vão coincidir regularmente. De modo semelhante, se o
ciclo de vida do parasita for de 3 anos, então a cigarra procura evitar um
ciclo que seja divisível por 3, para que seu aparecimento, e do parasita, não
volte a coincidir. No final, para evitar se encontrar com seu parasita, a
melhor estratégia para as cigarras seria ter um ciclo de vida longo, durando um
número primo de anos. Como nenhum número vai dividir 17, a Magicicada
septendencim raramente se encontrará com seu parasita. Se o parasita tiver
um ciclo de vida de 2 anos, eles só se encontrarão uma vez a cada 34 anos, e se
ele tiver um ciclo mais longo, digamos, de 16 anos, então eles só vão se
encontrar uma vez a cada anos.
De modo a contra-atacar, o
parasita só pode ter dois ciclos de vida que vão aumentar a freqüência de
coincidências – o ciclo anual e o mesmo ciclo de 17 anos da cigarra. Contudo, é
improvável que o parasita sobreviva se reaparecer durante 17 anos seguidos,
porque pelos primeiros 16 anos não vai encontrar cigarras para parasitar. Por
outro lado, para alcançar o ciclo de 17 anos, as gerações de parasitas terão
que primeiro evoluir para o ciclo de 16 anos. Isto significa que, em algum
estágio de sua evolução, a aparição do parasita e da cigarra não coincidiria
durante 272 anos! Em ambos os casos o longo ciclo vital da cigarra a protege.
Isto pode explicar porque o
suposto parasita nunca foi encontrado. Na corrida para alcançar as cigarras, o
parasita provavelmente foi estendendo seu ciclo de vida até atingir a barreira
dos 16 anos. Então o aparecimento das duas espécies deixou de coincidir por 272
anos e a ausência de cigarras levou o parasita à extinção. O resultado é uma
cigarra com um ciclo de vida de 17 anos que ela não mais necessita, porque seu
parasita não existe mais.
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